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[Psicologia] O GRITO – Quando gritamos com as crianças…

[:pb]Grito com crianças

 

Quem nunca se irritou com crianças gritando, correndo, fazendo bagunça e deu um “grito” para que a criança voltasse sua atenção para você? Mas será que gritar é a maneira ideal de conseguir com que as crianças se acalmem e prestem atenção em você? O que pode acontecer com nosso cérebro quando estamos constantemente sendo tratados aos “berros”? Como podemos agir nesses momentos que nos “tiram do sério”, que “nos levam a loucura”? Vamos refletir um pouco sobre esse assunto tão comum de ser encontrado em nossas casas e nas escolas.

Todos nós temos em nosso cérebro neurotransmissores (moléculas responsáveis pela comunicação entre neurônios) que possibilitam que façamos as coisas no nosso dia-a-dia (aprendizado, memória, atenção, regulação de humor, etc).

Quando o pai ou a mãe grita (é estúpido(a), áspero(a), intolerante, impaciente) ele(a) promoverá no cérebro do seu filho(a) um “derrame” de neurotransmissores que bloquearão a aprendizagem.

Alguns estudos indicam que uma criança que cresceu sob abuso verbal, de gritos e humilhação – ou os três juntos – têm sua estrutura cerebral alterada de forma permanente, causando mudanças na personalidade, no humor, comprometendo a estabilidade emocional e também dificuldade de manter a atenção.

Quando gritamos, há uma série de prejuízos no desenvolvimento psicológico das crianças. Elas acabam por desenvolver comportamentos mais agressivos ou defensivos, e na adolescência os problemas comportamentais e sintomas depressivos tornam-se mais frequentes.

O grito geralmente aparece quando alguém perdeu o controle, e ele não diminui o problema mas sim o aumenta. Além de que o grito também agride aqueles que não merecem ouví-lo, humilha e tem efeito momentâneo. Se gritar fosse a solução, não haveria indisciplina, inclusive na escola.

Uma questão importante e que devemos levar em conta é o comportamento dos próprios pais. Qual a imagem que os filhos fazem deles?

Um pai e uma mãe que não são coerentes em sua fala, que não tem integridade, que pede silêncio gritando ou ainda que pede ao filho(a) que seja justo quando ele próprio tem “2 pesos e 2 medidas”, leva a um problema de relacionamento e consequentemente a indisciplina. Todo relacionamento é uma “via de mão dupla”: ambos precisam saber ouvir e saber falar para chegarem a um consenso.

Como somos seres emocionais e relacionais, precisamos levar em consideração que a criança não respeitará o pai ou a mãe só porque eles são pais. O respeito e a admiração acontecerão quando a criança pderceber que eles se importam com ela, com seus sentimentos e desejos, quando dão bons exemplos (são íntegros) e quando procuram conhecê-la verdadeiramente.

Sendo assim, veja algumas dicas de como agir em caso de situações que o faria gritar:

  • Como vimos acima, quem grita é porque perdeu o controle, e sem controle não teremos a capacidade de disciplinar a criança.
  • Procure evitar momentos estressantes: é preciso um bom trabalho de observação e autoconhecimento para perceber quando estamos gritando ou não e assim trabalhar para eliminar esse comportamento.
  • Acalme-se antes de agir: tente fazer algo que o tranquilize quando perceber que está chegando no seu limite, saia de perto da situação estressante (se for possível) e relaxe, tome uma água e então retome o comando.
  • Procure não se culpar e não se exceder: não crie grandes expectativas quanto aos seus filhos, não os culpe por não serem exatamente como você imaginou ou gostaria, afinal eles são apenas crianças/adolescentes e a preocupação principal é a de que eles possam ser felizes e se desenvolverem adequadamente.

Dicas para ajudar com a disciplina:

  • Lembre-se que expressões faciais funcionam muito melhor do que o grito: quando precisar chamar a atenção da criança, chegue perto dela, coloque-se a altura dela, olhe nos olhos e diga baixinho o que deseja
  • Uma boa tonalidade de voz também é eficaz, não falar muito baixo nem muito alto.
  • Observe e procure conhecer seu filho(a). Uma prática amorosa e o respeito às individualidades pode contribuir para diminuir indisciplina
  • Promova a autonomia dos seus filhos(as): ao propor e realizar tarefas , mostre a eles que você confia neles, que quando eles cooperam, ajudam e se respeitam, não há necessidade de levar bronca.
  • Deixe-os entender que eles têm qualidades e que precisam e merecem desenvolvê-las, mas que isso só será possível com a colaboração de todos. Lembre-se que quanto maior for a confiança e a liberdade, maior será o respeito e a dedicação de seus filhos(as).

Os pais precisam ser inteligentes para lidar com as situações que aparecerem: lidar com imprevistos, mudar estratégias, ter um “Plano B” e conseguir pensar em como reverter uma situação complicada, são algumas das competências que os pais de hoje precisam desenvolver, pois gritar não está com nada!

 

Camila Neves Camargo
Psicóloga Escolar[:]